Festas Juninas se aproximando e à minha mente sempre vêm recordações.
Da vez na segunda série em que fui escolhido pra Rei do Milho na quadrilha e nem apareci na festa.
Da preparação do arraiá na rua, quando muita gente ajudava a enfeitar (coisa que ficou lá nos anos 1990).
Das musiquinhas que insistem em martelar na cabeça.
De todas as comidas típicas: pamonha, milho cozido, milho assado, arroz-doce, munguzá, canjica...
Canjica.
Esta última comida me traz lembranças antigas. Lembro-me de, quando criança, acordar e ver minha mãe e meus irmãos debulhando milho, cada qual com uma bacia e um saco enorme de milho verde. Era tão bom, integrava tanto a família. Eu tentava ajudar, mas meus dedos logo doíam. Ficávamos manhãs inteiras debulhando os sabugos e minha mãe, à tarde, ficava cozendo o caldo de milho. Era um verdadeiro ritual.
À noite, todos esperávamos a canjica estar pronta. Eram vários pratos, copos e travessas, isso sem falar na concorrida panela, todo mundo queria raspar o tacho. Minha mãe saía oferecendo canjica às vizinhas, levava para os filhos que não moravam com a gente, existia a solidariedade.
Depois de um tempo, minha irmã começou a fazer canjicas para vender e colocava uma banquinha em frente à casa de minha mãe, vendendo também churrasquinho e arroz-doce ou bolos. Adorava comer uma colherada de canjica intercalada a uma mordida no espetinho de churrasco. Muita gente não aprovava essa mistura de carne e doce, mas eu gostava muito.
Saí de casa e perdi esta tradição.
Hoje divido apartamento e não tenho mais espaço ou tempo ou vontade pra fazer canjica. Limito-me a preparar uma mistura pronta para canjica. Basta colocar leite.
É, os tempos mudam. E os bons tempos ficam pra trás.