quarta-feira, 27 de maio de 2009

Canjica


Festas Juninas se aproximando e à minha mente sempre vêm recordações.

Da vez na segunda série em que fui escolhido pra Rei do Milho na quadrilha e nem apareci na festa.

Da preparação do arraiá na rua, quando muita gente ajudava a enfeitar (coisa que ficou lá nos anos 1990).

Das musiquinhas que insistem em martelar na cabeça.

De todas as comidas típicas: pamonha, milho cozido, milho assado, arroz-doce, munguzá, canjica...

Canjica.

Esta última comida me traz lembranças antigas. Lembro-me de, quando criança, acordar e ver minha mãe e meus irmãos debulhando milho, cada qual com uma bacia e um saco enorme de milho verde. Era tão bom, integrava tanto a família. Eu tentava ajudar, mas meus dedos logo doíam. Ficávamos manhãs inteiras debulhando os sabugos e minha mãe, à tarde, ficava cozendo o caldo de milho. Era um verdadeiro ritual.

À noite, todos esperávamos a canjica estar pronta. Eram vários pratos, copos e travessas, isso sem falar na concorrida panela, todo mundo queria raspar o tacho. Minha mãe saía oferecendo canjica às vizinhas, levava para os filhos que não moravam com a gente, existia a solidariedade.

Depois de um tempo, minha irmã começou a fazer canjicas para vender e colocava uma banquinha em frente à casa de minha mãe, vendendo também churrasquinho e arroz-doce ou bolos. Adorava comer uma colherada de canjica intercalada a uma mordida no espetinho de churrasco. Muita gente não aprovava essa mistura de carne e doce, mas eu gostava muito.

Saí de casa e perdi esta tradição.

Hoje divido apartamento e não tenho mais espaço ou tempo ou vontade pra fazer canjica. Limito-me a preparar uma mistura pronta para canjica. Basta colocar leite.

É, os tempos mudam. E os bons tempos ficam pra trás.


Um comentário:

Anônimo disse...

O ser humano tem uma tendência enorme ao saudosismo. Aposto que hoje você tem outros hábitos, outros rituais, que reúnem talvez outra "família", mas que também têm importância. E, no futuro, quando esses novos hábitos não existirem mais, você também vai sentir falta. Cada fase da vida tem o seu barato. Hoje eu também divido apartamento, pago contas, tenho dois empregos fixos e faço alguns frilas... E até essa rotina louca e tumultuada tem suas vantagens. Um dia vou sentir falta dela.